Santa Vitória do Palmar, cidade do extremo sul do Brasil, parece ainda manter o tempo necessário para a existência das narrativas, assim como tantas outras cidades afastadas dos grandes centros. Walter Benjamin em O Narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov, nos fala que a falta do tempo de escuta é um dos motivos do fim das narrativas. Um certo tédio é necessário. Tédio não como um sentimento negativo, mas como o espaço de tempo que nos deixa receptivos à escuta de relatos narrados por aqueles que vivenciaram acontecimentos ou presenciaram outro narrador contando histórias surpreendentes.
Em nossas recentes viagens à Santa Vitória, eu e Renato, meu irmão, percebemos este outro tempo entre os moradores da cidade. Um encontro na calçada, por exemplo,e o tempo necessário para troca de informações entre amigos, parece muito mais importante que o próximo compromisso da agenda.
Se as pessoas hoje não mais fiam ou tecem, como cita Benjamin, enquanto ouvem histórias, nestas cidades do sul elas ainda tomam o chimarrão. A roda de chimarrão é a hora dos relatos, mesmo que em "luta" contra o tempo destinado a assistência da informação imediata dos telejornais. A narrativa nada tem em comum com a informação. Quem transmite a informação não precisa ter necessariamente vivenciado a notícia. Já o narrador sempre terá vivenciado sua história, mesmo quando foi transmitida por outro narrador, este último estará contado sobre o dia em que ouviu tal história. Esta falta de vivência das experiências é apontada como um dos motivos do fim das narrativas. |
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